O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista
coletiva na manhã deste domingo, após palestra no 14º Fórum de Comandatuba, na
Bahia, contrariou as posições mais recentes de integrantes de seu partido em
diversos assuntos, como impeachment da presidente Dilma Rousseff e redução da
maioridade penal. Perguntado sobre a possível abertura de processo de
impedimento contra a presidente , FH se mostrou contrário a especulações:
Impeachment não pode ser tese. Ou houve razão objetiva (para
abrir) ou não houve. Quem diz se houve é a Justiça, o Tribunal de Contas, a
polícia. Você não pode se antecipar a isso, transformar o seu eventual desejo
de por um outro governo (no poder) em algo fora das regras da democracia. Isso
é precipitação. Os partidos têm que esperar – afirmou.
Ao longo da semana passada, havia ganhado força na bancada
do PSDB na Câmara dos Deputados o desejo de encaminhar um pedido de processo de
impedimento contra a presidente com base nas manobras fiscais do governo no ano
passado, as chamadas pedaladas, identificadas pelo Tribunal de Contas da União.
FH respondeu também ao presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que afirmou neste domingo, também durante o 14º Fórum
de Comandatuba, que as pedaladas acontecem há 15 anos, portanto, desde o
governo FH.
Eu não sei andar de bicicleta, como vou dar uma pedalada?
– brincou, para depois complementar:
Eu duvido que tenha sido feito algo dessa magnitude no meu
governo, e se foi, foi errado. Um erro não justifica o outro.
FH ainda qualificou como “arriscada” a aprovação da lei que
reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos, proposta defendida pelo então
candidato tucano à presidência Aécio Neves, em 2014, e encampada pelo PSDB e
partidos de oposição e de situação no Congresso.
Porque aí você reduz (a maioridade) pra 16 anos, vão
começar a usar criança de 15 (no crime), o bandido vai pegar criança de 15 anos
para dizer que não é culpado. Não resolve – afirmou.
Para ele, melhor seria dar ao juiz de cada caso a
possibilidade de determinar se o menor de idade infrator deveria ser mantido
sob custódia do Estado por mais ou menos tempo:
É uma coisa de bom-senso. E manter preso em condições
específicas de menor – ressaltou.
FH chamou ainda de “jogada política” a decisão do PT de
proibir doações de empresas a seus diretórios, na semana passada. Segundo ele,
“depois de a porta arrombada, querem fechar a porta”. O ex-presidente disse
ainda que o PSDB estuda limitar doações de pessoas jurídicas mas que a
discussão principal deveria ser sobre como tornar as campanhas políticas mais
baratas.
Tem que reduzir a gastança na campanha. Fazer distritos
menores, acessos mais diretos à TV, sem tanto “marketismo”. Se você não baixar
o custo, as pessoas vão acabar achando dinheiro de alguma maneira ilegal.
O ex-presidente foi enfático em dizer que discorda da
proposta de extinção do PT, defendida por oposicionistas mais radicais como
Ronaldo Caiado, senador pelo DEM:
Eu sou contra. O PT é um partido importante, que
contribuiu em muitos momentos da vida brasileira. Como se faz democracia
extinguindo partido? O PT tem que coibir os abusos que ele próprio fez, a
sociedade tem que ser contra esses abusos, mas não tem sentido fechar o PT.
Nenhum representante do PT participa do 14º Fórum de
Comandatuba.
A repórter viajou a convite do Fórum.
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